A Colina Azul

Morreu Jesus Correia
Vejo a notícia no Telejornal.
O desporto português está de luto. O Sporting Clube de Portugal e o Paço de Arcos, também. Morreu o último dos "cinco violinos" do S. C. P. Uma das razões porque me tornei simpatizante do Sporting. Tinha então, seis anos de idade.

Tarde. 15H00. Ilha de Luanda.
Percorro a ilha devagar. Também, não podia ser de outra maneira. Estava o trânsito todo engarrafado. Ainda bem. Deu para ver praia e mar. Mais praia e mais mar. Deu para pensar e olhar, a praia e o mar. E ouvir música. Será que um bocadinho de água daquela onda vai chegar a Portugal? Será que vai bater no Guincho ou em Cascais? Pelo sim, pelo não, atirei um pouco de saudade á onda e ela lá seguiu o seu caminho. Depois, voltei a casa e fiquei a pensar. Nisto.

Manhã. 11H00. Vou à pizzaria no r/c do meu prédio beber um café. No vidro da montra, que dá para uma pequena esplanada, já se pode ler escrito com neve artificial: " Festas Felizes ".
Está calor em Luanda. O Natal está à  porta. Entro e sento-me junto à  árvore, toda enfeitada e rodeada de caixas embrulhadas com laçarotes. Na mesa em frente, um pai e cinco filhos "mata-bicham" pizza e gelados. Uma menina ao colo, quatro rapazes sentados. Dois vestem camisolas do meu clube, o Sporting Clube de Portugal. O pai, visivelmente cansado, falava da viagem efectuada durante a noite e explicava coisas sobre as distâncias e respondia a perguntas sobre o tamanho dos quilómetros e outros mistérios que todas as crianças querem entender. A pequenina puxava-lhe a manga da camisa ao mesmo tempo que esticava os lábios, a pedir qualquer coisa que pensava eu ser um bocadinho de gelado. Enganei-me. A miúda só queria aquilo a que tinha direito depois de uma separação de que desconheço o tempo. E que o pai, assim que se apercebeu, lhe deu com toda a ternura. Um simples beijo. Paguei o café e saí­ da pizzaria a pensar na importância da relação existente entre a ternura e a distância. E que o Natal já está mesmo à  porta.

Este imenso cansaço
esta coisa de ter
um momento diverso
no caminho
em que passo a correr.
Este laço liberto
esta coisa de ser
um livro todo aberto
num momento disperso
no caminho em que passo
a viver.

Recuso-me a ser triste.
Talvez pacífico ou revoltado por dentro. Talvez atento á desarmonia que muitos provocam, sem dar os murros na mesa que deveria dar na hora certa. Mas triste, não.
Tristes ficamos, sim, quando morrem as nossas mães.
Acho que nós, portugueses, até somos um povo alegre, serenamente alegre. Deve ser essa a confusão.

Eu fui um dia, um cavaleiro andante
de espada de piteira e elmo de cartão,
um cavalo de pau era o meu rocinante
e a capa, um reposteiro sem brazão.
E fui também o Prí­ncipe Valente,
Ivanhoe, Lancelote do Lago
e todos os heróis de um mundo de aventuras,
que recordo e recordo
e nunca apago.
Porque os heróis não tinham dores, nem amarguras,
nem senão.
Só tinham sonhos e vitórias.
A dor, não existia nas histórias
e tudo era um apelo á  ilusão.
Passei uma noite, na torre de menagem de um castelo,
no rio,
de tocha acesa.
Quando a tocha apagou, era o nascer do dia.
Ficou-me o sonho todo
e a poesia.
E alguma certeza.
Depois, cresci. Cresci rápidamente.
Percebi a dor de muita gente
e a força de ser e ter razão.
Percebi a existência e a aventura,
a importância do amor e da ternura.
E voltei a ser
um cavaleiro andante,
de espada de piteira e elmo de cartão.

... M' ESPANTO AS VEZES, OUTRAS M' AVERGONHO...
( Sa de Miranda ) - Citando o Dr. Pacheco Pereira, que no topo do seu blog cita Sá de Miranda.
Foi o que senti, ao saber do comportamento da selecção portuguesa de futebol de Sub-21, após o jogo com a França que venceu por 4-1. Nas comemorações da vitória destruiram quase completamente o balneário.

AMIGOS 1

Os amigos são seres, por vezes silenciosos, outras vezes barulhentos, que têm a singular particularidade de gostar de nós.
Aparecem e desaparecem nas, e de, as nossas vidas, sempre para desempenharem papéis importantes, sem pretenderem rigorosamente nada em troca.
Um amigo é um ser que está sempre ao nosso lado, mesmo que a distância espaço- temporal seja imensa.
Um amigo é alguém que habita na nossa dimensão, estimula a nossa criatividade e mesmo que tenha opinião diferente da nossa, tem sempre capacidade para perceber o direito que temos à diferença.
Um amigo, é uma dádiva de Deus.
Um amigo, é.

Morreram, há dias, 4 pessoas na Província de Benguela, devido ao rebentamento de uma mina. Entre elas, um professor e uma criança. As minas, ainda matam o que Angola mais precisa: Os protagonistas da educação e os do próprio futuro.

Uma criança azul
ofereceu-me umas asas,
abriu mil janelas
e escancarou as portas
de outras tantas casas.
Uma criança azul
é um sonho ou um mito,
uma urgência ou um grito?
Talvez um pensamento
que me deixa a escutar
as vozes que vêm
do vento e do mar.
As vozes que contam
coisas de encantar.
As vozes que fazem
o mundo girar.

Angola comemora hoje 28 anos como País.
Parabéns, Angola. Que sejas muito feliz.

Luanda, fim de tarde. Tento passar de uma avenida para outra, ambas de prédios altos. Para isso atravesso uma rua de pequenas moradias, com quintais e árvores. Atravesso, mas engarrafado. Devagar, ligo o rádio, companhia que não se pode dispensar a quem circula nesta cidade. A rádio LAC transmite um programa sobre jazz. Um jovem trompetista norte-americano de 31 anos, toca para meu relaxe. Toca bem. Desloca-se a Luanda, no próximo dia 20 de Novembro, para dois espectáculos. Uma senhora negra, gorda, muito gorda, descansa sentada à  porta de sua casa. Um miúdo passa mesmo ao lado do meu carro, com um carrinho de mão, transportando um saco de cimento. Muita gente circula, para trás e para diante, como se tivesse urgência em chegar. A qualquer lado. Mulheres jovens, negras, lindas. passam de jeans apertadas e tops ajustados, afirmando a sua sensualidade. O trompete continua a tocar com um piano em fundo. As folhas das árvores dos quintais, abanam com o vento. Onde estou? Em Luanda? Em New-Orleans?.

Números. Preocupação. Terror.
Leio no " Jornal de Angola " que 18% da população angolana poderá estar contaminada pelo vírus do HIV/Sida até ao ano de 2010.
De acordo com o estudo efectuado, haverá uma redução da esperança de vida de 13 anos ( actualmente de 42 anos ), passando portanto a esperança de vida a ser de 29 anos em 2010.
Também se espera um aumento significativo da mortalidade da população jovem ( dos 15 a 49 anos de idade ), registando-se nessa faixa etária, 85 a 105 mil mortes por ano.
Igualmente, durante o mesmo período e por causa dos efeitos do HIV/Sida, estima-se que fiquem orfãs 250000 crianças.
É razão mais que suficiente, para soltar um grito do tamanho do Universo. Não ficar a olhar a revolta evidente e rezar para que estes números nunca venham a ser confirmados.

Um dia destes vou editar um post sobre os meus amigos. Não tenho muitos, mas são bons.
Fica a promessa feita.

Ontem choveu durante todo o dia. Luanda encharcou. Horas de engarrafamento, em toda a cidade. O stress a tomar conta das pessoas. Rios no lugar das avenidas. O caos. Pelo menos 1 morto ( uma criança ), provocado pela queda de um cabo de alta tensão.
Hoje, o Sol espreita entre nuvens. As ruas secaram. Há buracos novos e os antigos estão mais fundos. As pessoas acalmaram.
A vida continua.

O Presidente do Brasil já está em Angola. Lula da Silva vem por dois dias. Com ele viajam 102 empresários, ministros e outras entidades governamentais, etc. Vem com projectos concretos.
Coisas que já estão a ser assinadas. Da Indústria à Agro-Pecuária, Educação, Cultura, Comércio, Telecomunicações, Transportes, etc, etc. Muitas, muitas coisas. Que já estão a ser assinadas.