A Colina Azul

Luanda-Huambo
Amanhã é feriado em Angola. Vou viajar no feriado. O Huambo espera por mim. Vou descobrir diferenças, de há um ano e meio até hoje. Vou recolher dados. Quando voltar, no dia 12 de Junho, voltarei a esta colina. Até breve.

Amor ( para a minha mulher )
Amor é:
A milhares de quilómetros de distância, entregar-te a totalidade dos meus pensamentos. Oferecer-te todos os meus passos. Dedicar-te todos os meus poemas e agradecer-te, todos os teus abraços.

Huambo, aí vou eu!
Aí vou eu, trabalhar quase duas semanas no Huambo ( antiga Nova Lisboa ). Fui lá a primeira vez em Set/Out de 2002. Tenho um compromisso pessoal com quem lá recrutei para trabalhar na empresa. Finalmente vou cumprir. Tarde, mas vou.
O blog, vai ficar parado quase duas semanas. Mas no regresso, prometo contar tudo.

Coca-cola
A Coca-Cola, vai investir, este ano, mais ou menos cem milhões de USD em Angola, segundo o Jornal de Angola. Cinquenta milhões de USD segundo a RTPi. Realidade ou futurologia?

Não me apetece falar de dramas. Só me apetece estar vivo.
Estou vivo. Vejo os olhos de verdade nas pessoas e sei identificar os mentirosos.
Estou vivo. Vejo o movimento suave das mãos que não enganam e a pureza das ideias dos que sabem apontar os caminhos.
Estou vivo. Vejo a imensa beleza das palavras dos que não sabem escrever, nas histórias que todos nos sabem contar.
Estou vivo. Não vale a pena ficarem à espera, que eu ceda a qualquer coisa que me cheire a falso, ou a mentira, ou a uma imensa mascarada.
Estou vivo. Tenho a certeza.
Mexo os pés e as mãos, os pulmões e a alma, planto esperanças e aventuras nos campos virgens das gentes e sobretudo vendo ideias, desde que sejam consistentes.
Embora pareça, não vendo ilusões.
Alugo revoluções, mudanças, coisas sem ser a prazo.
Ajudo a descoberta, abro cabeças, horizontes e pinto quadros a óleo sobre a pele de pessoas a sério.
Estou vivo. Em qualquer hemisfério.

Domingo idiota
Sem carro em Luanda, fácilmente se origina um Domingo sem interesse. Limitei-me a ir almoçar de boleia, a tomar três cafés na pizzaria e a ver televisão. Nem os jornais locais consegui arranjar. Melhores dias virão.

Caro Pedro M. B., que tens dois meses
Tive o prazer de te conhecer, há umas noites nos corredores anexos ás varandas do prédio onde ambos vivemos, por enquanto. Gostei muito, no entanto de observar a tua enorme e visível determinação. Rodeado pelo teu pai e por mais três seres de grande dimensão, não te preocupaste absolutamente nada com as patetices que os outros diziam, com as coisas que faziam, e, nunca desviaste os olhos do único ser que que te pode ajudar, no mundo egoísta em que todos vivemos. Que ele, que conheci com três anos de idade, serpenteando entre cadeiras e móveis antigos e que nunca pensei encontrar nesta terra tão distante e tão diferente, te acompanhe ( junto óbviamente com a tua mãe ), e te encaminhe para o destino dos homens bons que o nosso mundo tanto precisa. És, como todas as crianças, um grito de esperança.

Ironia
Foi criado um movimento chamado " Portugal Positivo ", que pretende fomentar o optimismo entre os portugueses, precisamente no mesmo dia em que, mais uma vez, aumentam os preços dos combustíveis.
A vida é, de facto, feita de grandes desafios.

Sem água, nem luz, nem TV, nem etc.
Estive uma semana sem ligar nenhuma ao meu blog. Embora pudesse tê-lo feito. A linha telefónica funcionava e a bateria do portátil estava carregada. Não quiz foi utilizar a carga, que é demasiado valiosa para as emergências.
Começou este cenário magnífico, com a falta das televisões do mundo. Daí não veio nenhum mal, porque até me obrigou a visualizar programas da TPA e a situar-me melhor no país onde estou.
Um destes dias, descobri que a minha nova empregada me fechava a torneira de segurança do tanque de água. Provávelmente com receio de alguma inundação e por desconhecer que uma bóia ali existente a fecha automáticamente. Esclarecida de manhã a situação, porque ela chegou bastante cedo, fui trabalhar descansado.
Á noite, ao chegar a casa, verifico que não tenho luz ( leia-se energia eléctrica ), não tenho água, porque a bomba que envia a água para o 2º andar, onde resido, avariou.Depois, não tinha mais nada. Nem televisão de África, nem do resto do mundo, nem ar condicionado, nem frigorífico, nem coisa nenhuma. Graças a Deus tinha velas, que sobraram do último acidente de percurso. Encetei de imediato, os esforços de resolução.
Primeira e única medida: telefonar ao " Deus " chefe da manutenção da empresa onde trabalho. Resposta imediata: Amanhã, de manhã, vou aí ver o que se passa. Fiquei descansado e fui dormir.
No dia seguinte, fêz-se luz. Ou seja, vim a saber a razão porque tinha ficado sem energia. O meu amigo, " Deus " da manutenção, não me identificou o criminoso, mas revelou a causa do meu problema. Imaginem que um vizinho, não meu colega, nem conhecido, a quem a Empresa de Electricidade de Luanda cortou a luz, desviou a minha energia para casa dele. Sem mais nem menos. Roubou-me a luz.
Mas o " Deus " da manutenção da minha empresa, que é grande, gordo e justo, como o Deus verdadeiro, resolveu o problema. Devolveu a minha luz e garantiu que o criminoso também ficava com energia, para não voltar a repetir o crime. Este " Deus " da manutenção, vive cá há muitos anos, e, naturalmente desenvolveu uma imensa sabedoria.

Estamos vivos, meu amigo
Hoje, vi um amigo perturbado
Hoje senti um amigo, perturbado e inquieto
Mas pareceu-me sobretudo, desperto.
Até me pareceu fechado,
Mas também, me pareceu, relativamente aberto
dentro do possível.
Se o possível, é o que está nas nossas mãos.
Resta-me dizer, que o mais importante de tudo
é ser.
O mais importante do mundo, é saber que tudo,
o que não se questiona, até ao fundo
é " desviver " ( não gosto do termo " morrer " ).
É preciso dar dois murros na mesa,
três nos cornos, quatro na certeza,
dos que só querem o poder.
Um país que precisa do mais importante,
que são as pessoas,
não pode recusar o mais importante,
que são as pessoas.
A minha liberdade, é uma lenda, que não vou contar
aos netos que não tenho.
Mas que vou afirmar ao mundo inteiro, mesmo ao mais mesquinho
e sem tamanho,
para perceber, que os homens
que o são verdadeiramente,
são, sobretudo,
gente.

Cheguei a Luanda
A viagem foi óptima. Depois, foram duas horas para sair do aeroporto. Cheguei a casa e o comando do ar condicionado não funcionava. A televisão de cartão também tinha uma avaria na parabólica do prédio. O frigorífico estava vazio e era Domingo à noite. Disse para mim: Estás em África, não te esqueças. Sente-a, percebe-a. Fui dormir.
Hoje, o prédio continua sem a televisão do resto do mundo, como RTPis, SICs, Globos, BBCs, e etcs. Fui obrigado a ver a TPA 2. Vi um programa sobre crianças, creches e jardins infantis. Descobri, entre outras coisas, que em Angola a população entre os 0 e os 5 anos, é maior do que entre os 6 e os 80/90. Há tudo para fazer.

De asas abertas, volto para Luanda. Como estará, desta vez?

Coisas estranhas
Sou eu, que estou ali. Ouço o CD do José Mário Branco. Volto a ter 20 anos. Ou talvez, nunca tenha deixado de ter.
" Resistir é Vencer ". Vou substituir, no meu vocabulário pessoal, por " Resistir é Viver ". Depois vou até á praia, dar um mergulho no mar. As sereias dos meus dias, estão sempre lá, à minha espera. Para repensar o mundo.

Dia da mãe
Eu sei que é um dia que foi convencionado. Mesmo assim nada me impede de enviar um beijo e uma flôr imaginária a todas as mães do mundo. Inclusive à minha e à da minha mulher. As mães são pessoas sempre presentes. Mesmo quando já partiram. Obrigado por tudo.