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quinta-feira, janeiro 29, 2004

Vista da esplanada

Passam carros e peões,
deusas e camaleões,
operários e camponeses,
escriturários, jornalistas,
engraxadores e artistas,
disfarçados de pavões, às vezes.
Passam horas e minutos,
passam roupas, acessórios,
vaidades e suspensórios,
nos mais ou menos astutos.
Passa gente e passa o tempo,
glórias e ilusões,
vaidades e invenções.
E passa até, o momento
de fazer revelações
aos vizinhos,
por nos sentirmos, sózinhos,
nas prisões das nossas casas.
Passa a raiva e a revolta
e aquela palavra que se solta,
por ter asas.

terça-feira, janeiro 27, 2004

Sobre a morte de Miklós Fehér:

Disse a mim próprio, que não escrevia sobre o assunto.
Consegui aguentar dois dias. Os orgãos de comunicação social pressionam muito. Tem que ser, e, aí vai:
Um jovem sorriu, fracções de segundo antes de partir de vez. Vi em directo como de certeza que hoje, muitos milhões. Teve a coragem de ficar de costas para a câmara de televisão.
Talvez não tenha sabido porquê. O seu sofrimento não teve visibilidade televisiva. Graças a Deus.
Depois, vimos o sofrimento dos companheiros, dos amigos, da família, dos adversários, do público, do povo, do mundo.
Hoje, ainda, toda a gente opina, palpita, resolve futuros problemas do Euro 2004, fala de saúde, de medicina desportiva, de meios e de equipamentos que evitassem o que aconteceu.
Um jovem sorriu e partiu, demasiado cedo do que o costume. Em directo na televisão.
Ficou, dele, a imagem da vida, num sorriso. O resto, ninguém viu. Ninguém pode explorar.
Deixem-no descansar em paz.

domingo, janeiro 25, 2004

Luanda faz hoje 428 anos de idade.

sexta-feira, janeiro 23, 2004

Aqui, espera-se a vida até a festa acontecer.
Depois, dois anjos multicôres, presumo, transportam a alma do defunto para o céu do Hemisfério Sul.
Os que cá ficam, festejam o evento até o Sol nascer.
São coisas de muitos mil anos, que tornam mais difícil a qualquer de nós, europeu, perceber a diferença.

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Choveu o dia inteiro em Luanda. Vamos esperar por amanhã. Não foi nada de grave, mas molhou, encheu de água os buracos e obrigou-me a fazer alguma ginástica para conseguir movimentar-me, com um carro demasiado rasteirinho para esta cidade.

terça-feira, janeiro 20, 2004

Ela bem tenta seduzir-me. Abraça-me com calor de quase 30º C, abana-me com vento leve, encharca-me de pessoas interessantes. Muda o Governo Provincial de uma pessoa para três. Enfim, nem sei como ainda resisto e não desato a escrever sobre Luanda como um tresloucado. Mas um homem, não pode ceder logo à primeira. Isto é um jogo, que se joga devagar.

sexta-feira, janeiro 16, 2004

Estou de regresso a Luanda. A sedutora. Aterrei às 6 horas da manhã ( hora local ). Não dormi. Estou demasiado cansado para me deixar seduzir. Vou tentar descansar, pois amanhã é outro dia. Boa noite.

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